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Realidade Espiritual da Ceia do Senhor


Gino Iafrancesco
10 de Novembro de 2013


Bom dia, irmãos. A graça e paz do Senhor seja com todos. Vamos meditar por um momento antes de partirmos o pão para que o Espírito do Senhor nos ajude sempre com uma maior consciência que vem da vida e do Espírito. Vamos orar e ouvir algo da palavra do Senhor.

[Oração]

Querido Pai, que alegria o Senhor nos dá, no nome do Senhor Jesus Cristo, por quem Te conhecemos e Te recebemos. Que alegria Senhor, que aquela mesa que vem do Seu coração de amor eterno chegou até nós aqui também, ao longo do tempo, do espaço. Hoje estamos aqui Senhor, convidados por Ti, pelo sangue do Senhor Jesus, para participarmos da mesma mesa que participaram os apóstolos naquele dia. Essa mesa se estendeu até nós Senhor, por isso, com alegria, chegamos diante de Ti, nos inclinamos a Ti, crendo no perdão dos nossos pecados, que são muitos. Pedimos para o Senhor nos limpar, fortalecer o nosso homem interior com Teu Espírito, renovar as nossas almas, vivificar nossos corpos e realizar esse precioso e profundo mistério, que na simplicidade, o Senhor tem nos revelado e segue nos revelando. Rogamos a Ti Senhor, que seja com cada um de nós. Nos ajude a considerar a Tua palavra, recebê-la no espírito da parte do Teu Espírito. Que o Senhor nos nutra para a vida eterna, para a ressurreição dos nossos corpos e a continuação do mistério na eternidade. Em nome do Senhor Jesus Cristo. Amém e amém.


Irmãos, vou abrir naquela clássica porção de I Coríntios que quase sempre lemos nesse contexto da mesa do Senhor. Existem também passagens em Mateus, Marcos, Lucas e um pouco em João. Mas o Espírito Santo colocou Paulo como mestre dos gentios para enfatizar algumas palavras que também se relacionam com o Senhor Jesus nos evangelhos. Cremos que isso que lemos de Paulo também é do Senhor Jesus, pelo Espírito Santo. Vamos ler no capítulo 11. Depois podemos ler algumas coisas do capítulo 10, mas apenas para lembrar e destacar algumas palavras especiais.

Jesus falou: “aquele que recebe a quem eu envio, a mim me recebe.” Por isso, recebemos as palavras de Paulo como palavras do Senhor pelo Santo Espírito.

Verso 23: “Porque eu recebi do Senhor, o que também vos tenho ensinado.” Estou fazendo a tradução direta da bíblia Reina Valera em espanhol. “Que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão, e tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai.”

Que interessante! O Senhor dá, mas nós temos que tomar. Às vezes o Senhor dá e não tomamos. Não é a mesma coisa dar e tomar. Ele disse “tomai” porque Ele nos está dando para tomarmos. É como o Senhor falou para Josué: “Eu vos tenho dado a terra.” Essa terra, que segundo o Espírito Santo em Hebreus representa a plenitude de Cristo. É um presente de Deus. Tudo o que Deus tem para nos dar, Ele nos deu em Cristo e o Espírito toma tudo isso e vem a nós como um rio.

Mas lembrem-se que aqueles vencedores na época de Gideão se diferenciaram dentre os que voltaram para as suas casas. Isso porque eles tomaram do fluir do rio e levaram às suas bocas. Essa é uma fé ativa. É uma fé que crê e conta com a fidelidade de Deus e com a Sua provisão. Fortalecido na graça, eles estenderam suas mãos para pegar a água e levá-la à boca. Isso é tomar.

É o mesmo caso das virgens prudentes que, além do azeite que tinham nas lâmpadas – que é o nosso espírito – tomaram também consigo – com suas almas.

O Senhor havia dito: “de que serve o homem se ganhar tudo e perder a si mesmo?”. Outro evangelista disse: “perder a sua alma”. Esse “a si mesmo”, esse “consigo”, é a participação da nossa alma na graça. É a alma assentada na graça de Deus. A alma que crê, com uma fé ativa, que toma.

Então “as prudentes tomaram consigo”, em suas almas. Isso que representa a vasilha. A lâmpada é o nosso espírito. Todo filho de Deus tem azeite na lâmpada, mas as prudentes tomaram consigo o azeite – o mesmo azeite que está na lâmpada – também em suas vasilhas. Vejam que aqui também fala de tomar.

“Vos tenho dado a terra” – agora tem que pôr o pé. Precisamos ser diligentes, não negligentes, em tomar posse. Nós já temos a vida eterna, mas temos que tomar posse da vida eterna que temos. Ele já nos deu, agora temos que tomar, com uma fé ativa. É nosso. Obrigado Senhor, é nosso!

Então, pela fé, somos considerados mortos para o pecado e também vivos para Deus em Cristo. Colocamos o pé na terra que Ele nos deu e nos apresentamos como vivos e ressurretos. Isso é tomar. Tomar não é somente uma fé passiva onde tudo é o Senhor que faz. Ele já fez. Agora, Ele quer que nós, junto com Ele, façamos, tomemos, nos apresentemos no nome Dele, como membros do Seu corpo e instrumentos da Sua justiça.

Então essa primeira palavra “tomar” é muito importante. O Senhor falou: “tomai e comei”. Comer é esse exercício da fé que crê, que conta com Ele e vai agindo em união com Ele e em nome Dele. “Tomai e comei, isso é o meu corpo que por vós é partido.” Lembrem-se que o apóstolo João registrou algumas palavras anteriores a essas. Então as palavras nessa porção foram ditas por Jesus com base naquelas outras que Ele já havia falado. “Isso é o meu corpo”, é como se tivesse dito: “esse é o pão que darei pela vida do mundo”.

Eles já tinham ouvido que aquilo que o Senhor nos deu para vivermos, é o Seu corpo. Ele se fez homem, venceu o pecado na carne, venceu o mundo, venceu o diabo e também venceu a morte. Agora, Ele mesmo se dá como alimento.

Olhando a história da igreja, às vezes parece que o inimigo conseguiu obscurecer um pouco o nosso entendimento e começamos a brigar acerca da farinha do pão. Tiramos os olhos do Senhor e começamos a brigar pela farinha: será que a farinha se transubstanciou ou ela somente simboliza algo? Na Idade Média, alguns pensavam e enfatizavam que a farinha se transubstancia enquanto que outros pensavam que não. Depois, na época da reforma, outro irmão, homem de Deus, falava que não, o pão é apenas um símbolo. Então havia essa luta entre protestantes e católicos, se era um símbolo ou uma transubstanciação. Era uma luta sobre a farinha, como se o Senhor só nos tivesse dado farinha ou símbolos.

O Senhor sempre usou símbolos, mas os símbolos são símbolos de algo que é simbolizado. Aquilo que é simbolizado é a realidade que Ele nos dá. Não temos que nos reter acerca dos símbolos, mas receber o que é simbolizado pelos símbolos. E o que é simbolizado é Ele mesmo, como nossa vida, como nosso alimento, como nosso sustento. É Ele que nos nutre com vida eterna e continua nos nutrindo até o dia da ressurreição.

Hoje, quando partimos o pão, não vamos ficar pensando se estamos tomando um símbolo. Não fique só no símbolo. Vá para o que está atrás do véu. Isso é discernir o corpo que está atrás das aparências. Nós vivemos por Ele mesmo e a comunhão com Ele mesmo é que nos faz ter comunhão Nele, na realidade espiritual, não simbolizado. Aí está a verdadeira substância: o próprio Senhor – Ele é a vida.

“O pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Aquele que come a minha carne, bebe o meu sangue, tem a vida eterna. Eu o ressuscitarei no último dia.” O Senhor mesmo é o nosso alimento. Não vamos nos preocupar com aquela questão do que acontece com a farinha. Deixemos isso para a Idade Média.

Que o Senhor nos guarde de menosprezarmos aqueles homens, não vamos diminuí-los. Mas que o Senhor nos guarde ainda mais de menosprezarmos a realidade por ficarmos nos assuntos externos. É isso que devemos discernir quando partimos o pão e bebemos o cálice.

Outras palavras também foram ditas. A primeira delas é a palavra “memória”. “Fazei isso em memória de mim.” A memória é para manter a consciência presente sobre o que o Senhor é e o que o Senhor fez. É para não esquecermos, é para que isso não saia da nossa consciência, mas que nossa consciência permanentemente esteja participando do que o Senhor é, do que Ele falou, do que Ele nos deu, do que Ele fez em nós e por nós.

Agora somos os membros Dele e, portanto, todos somos um corpo, pois participamos Dele. Primeiro nós entramos Nele e então nos encontramos no corpo. Não entramos no corpo para O encontrar. Ele entra em nós e nós entramos Nele. Ele está em nós e nós Nele. Nele nos encontramos com todos aqueles que estão Nele. Esse é o corpo. Isso é também um mistério e também temos que discernir a realidade espiritual de Cristo e a realidade espiritual do corpo, que está além das aparências. Isso é discernir o corpo.

A palavra “memória” significa trazer à consciência a Sua pessoa divina e humana, que se entregou por nós, que ressuscitou, que está à destra do Pai e também está conosco todos os dias até o fim do mundo. Então essa memória se torna um testemunho, um anúncio. Quando cremos e agimos no nome Dele, partimos o pão como Ele pediu que partíssemos, sempre em memória Dele. Além de uma memória, isso é um anúncio. É o testemunho da igreja anunciando quem é o Filho de Deus – Jesus, o Filho de Deus, que viveu uma vida sem pecado, agradável a Deus e que morreu por nós.

O evangelho, que também abrange a ressurreição, anuncia essa morte até que Ele volte. O ressurreto está conosco e estará conosco até aquele dia quando Ele se manifestar. Então, nós que comemos e bebemos Dele, pela Sua graça, também seremos manifestados com Ele em glória.

Agora chegamos em outro ponto: “esse cálice é o novo pacto.” Já vimos várias palavras-chave: memória, anúncio e pacto. Esse é o novo pacto. Essa é uma nova maneira que Deus estabeleceu para estarmos aliados com Ele e também entre nós, uns com os outros, justamente por causa de Cristo, pelo Espírito. Somos aliados primeiramente com Ele, e por causa Dele é que somos aliados com aqueles que são Dele. Nossa comunhão, amados, não se deve a algo diferente, a algo menor do que a participação com Cristo.

Não somos aliados porque temos um pensamento parecido ou alguma doutrina escatológica específica. Claro, todos procuramos a verdade. Mas a razão pela qual somos um é Cristo. Não precisamos nada além de Cristo para estarmos dentro do corpo. Aquele que recebeu o Senhor e tem o Espírito de Cristo por participar com Cristo no Espírito, foi batizado pelo Senhor em um corpo, então nesse corpo participam todos os que participam de Cristo.

É por ter Cristo que uma pessoa é membro do corpo e é nosso irmão. Nem sequer é a nossa eclesiologia a base da nossa comunhão. A base da nossa comunhão é a participação no mesmo Cristo, no Seu mesmo Espírito. Não temos que fabricar uma unidade, mas preservar, guardar uma unidade que já existe, é o próprio Espírito do Senhor.

Nós que nascemos de novo, participamos do Espírito, estamos inseridos no único corpo só nos é pedido conservar essa unidade para que o mesmo espírito nos conduza até que todos cheguemos a unidade da fé do Filho de Deus e a unidade do conhecimento do Filho de Deus – algo que está no futuro. Mas esse futuro podemos alcançar permanecendo no espírito.

Aquele que é uma criança, recém-nascida na casa de Deus, ainda não sabe nada sobre essa casa. Como uma criança, não sabe diferenciar tio, tia, sobrinho, mas, ainda assim, faz parte do corpo se nasceu de novo. Nasceu e é uma criança, mas já é do corpo, da família.

Ninguém faz parte dessa família porque assinou os artigos do credo de uma denominação ou de algum grupo não denominacional. Nós somos irmãos por causa de Cristo. Nunca devemos receber ou não receber alguém em outra base que não seja a participação com Cristo. Devemos discernir a Cristo, pela fé, na palavra, por trás dos símbolos, da farinha do pão e do suco de uva. Deus nos deu mais do que os símbolos, Ele nos deu Seu Filho. Ele mesmo Se deu através do Filho.

Então, somos irmãos por um só motivo: porque recebemos o Senhor, pois Ele nos recebeu primeiro, nos perdoou e nos regenerou. Isso é o que nos faz irmãos e é só por isso que recebemos a todos aqueles que Ele recebeu. Não mais e também não menos.

Confiamos no Espírito de Deus, que Ele nos dará cada vez mais consciência. Então, vamos participar da mesa do Senhor, com discernimento do corpo de Cristo, que Ele nos deu.