Visões Irreconciliáveis da Reconciliação


Mensagem Ministrada por Voddie Baucham
18 de Outubro de 2019

Juntem-se a mim em uma palavra de oração.

Ó Deus, te agradecemos e regozijamos pelo amor e no amor do Calvário. Obrigado por lembrar-nos da nossa grande necessidade e da Sua ainda maior provisão. Permita, pela Sua graça, que nunca fiquemos estafados ou acostumados com a magnitude do amor do Calvário e suas implicações nas nossas vidas. Agora, conforme direcionamos nossa atenção à pregação da Tua palavra, continue encontrando-se conosco em nossa adoração; pois nossa adoração é sem sentido a não ser que, ou até que, entremos em comunhão contigo. Ensina-nos, corrija-nos, exorta-nos, capacita-nos, molda-nos à imagem do Seu amado Filho. Em outras palavras, que Sua palavra encontre caminho, pois oramos em nome de Cristo. Amém.

Logo de início quero dizer novamente que é um grande privilégio estar aqui. Sou grato pela ampla providência do ministério do Dr. MacArthur e como seu ministério tem impactado vidas, famílias, igrejas e toda uma geração. Assim como todos vocês, também sou grato pelas maneiras que esse ministério tem impactado minha vida pessoal. Já disse em outras conferências e em outros momentos que é um privilégio único para mim, estar em pé atrás dessa mesa sagrada.

Eu nasci e cresci aqui em Los Angeles, no mesmo ano quando Dr. MacArthur começou a pastorear essa igreja. Por esse fato sou grato, pois celebramos nossos 50 anos juntos, não é mesmo? Eu nasci de uma mãe adolescente solteira e budista. Eu nunca tinha ouvido o evangelho, até o meu primeiro ano de universidade. Eu saí de Los Angeles antes de ter ouvido o evangelho. E para Deus, em Sua providência e pela Sua graça, ter me chamado para Ele mesmo, me salvado dos meus pecados e me trazido novamente a esse lugar me faz lembrar todo o tempo de que um profeta não fica sem honra exceto em sua própria cidade. O fato de Ele ter dado a mim o privilégio de poder estar aqui diante de vocês tem um significado maior do que vocês imaginam e é maior do que eu posso dizer.

Meu encargo hoje é abordar a questão da suficiência das escrituras conforme elas se relacionam com as questões da reconciliação racial, essa ideia em particular e o conceito de justiça que tem estado nas mentes e lábios de tantas pessoas ultimamente. Quero abordar isso de algumas maneiras. Uma delas é trazendo uma palavra de esclarecimento. Quando temos discussões, desentendimentos e debates, uma das tendências de muitas pessoas é descaracterizar ou simplificar demais os argumentos ou posicionamentos daqueles dos os quais discordam. Não quero de forma alguma ser culpado disso, mas também não quero ser vítima disso.

Quero deixar claro o que eu creio. Não posso falar a todos que assinaram e contribuíram com a elaboração daquela declaração sobre justiça social e o evangelho, mas quero deixar claro o que creio sobre a importância desse momento em que vivemos e sobre quem são os nossos verdadeiros adversários. Em algumas ocasiões, temos debates internos, desacordos fraternais e argumentos sobre assuntos específicos. Podem ser questões pequenas, mas muito importantes. O que eu tinha em mente quando me tornei parte do grupo que compôs aquela declaração não era fazer parte de um daqueles grupos particulares e ter pequenos debates fraternais que irmãos têm sobre questões menos críticas. O que vi foi um assunto muito maior, muito mais amplo. Algumas pessoas me acusam de encobrir comentários desse ou daquele irmão ou não responder a artigos que eu nem mesmo li ainda. Não sei se vocês se lembram, mas eu moro na África e tenho mais coisas para cuidar do que eu poderia dizer – é a graça que Deus me deu ao me chamar para cuidar de lá. Então nem sempre consigo ver tudo.

Mas tem outra coisa que vocês precisam saber sobre mim: minha tendência é não temer as pessoas – só um comentário. Quando quero dizer algo e direcionar isso a alguém, normalmente eu faço isso. Creio que esse é o nosso dever, nossa responsabilidade e creio que temos um modelo disso no novo testamento.

Eu amo quando Paulo escreve a Timóteo em 2 Timóteo e ele não diz apenas: “tem um irmão que me causou dano.” Ele diz: “Você conhece o Alexandre? Sabe, aquele caldeireiro que fica lá na rua principal, na esquina… você sabe de quem estou falando não é? Aquele lá.” Creio termos um modelo e isso é muito importante.

Uma outra questão é o fato de existirem alguns que argumentam que aquilo que abordamos é uma tentativa de evitarmos o verdadeiro problema ou tomarmos algo que é enorme, amplo, cultural, sistêmico e reduzirmos a algo menor. Também quero falar sobre isso hoje. Mas a outra questão é acharem que estamos lutando com um espantalho, um bicho papão que mesmo crendo ser necessário abordar, na verdade é um problema que não existe. Quero falar sobre todas essas coisas. Mas vou começar falando sobre essa ideia de que estamos lutando com um espantalho, de que estamos criando um espantalho a fim de fortalecer nossa posição.

Quero ler algo para vocês. Isso é da Associação de Seminários. A Associação de Seminários é um seminário de verdade. Eles treinam pessoas de verdade para o ministério de pastoreio em igrejas de verdade. Eles responderam a nossa declaração. Aqui está uma parte dessa resposta. Não vou lê-la inteira.

Eles iniciam assim: “Falaciosas teorias sociais, psicológicas e políticas há muito tempo fomentam errôneas interpretações bíblicas.” Amém, é por isso que nós escrevemos o que escrevemos. “Mas queremos abordar inverdades que aquele documento proclama. Qualquer tratado que afirma que a justiça social é incidental ao evangelho, não compreende ambos.” Quero deixar claro que não estamos tomando isso fora do contexto. Esses indivíduos estão respondendo a nossa declaração e ao que eles vêem como más interpretações, inverdades e erros em nossa declaração.

Primeiro ponto, sobre as escrituras: “Ainda que divinamente inspiradas, negamos que a bíblia é inerrante ou infalível. Ela foi escrita por homens durante séculos e, por isso, reflete a verdade de Deus e o pecado e preconceito humano. Afirmamos que o estudo acadêmico e a teoria crítica nos ajuda discernir qual mensagem é de Deus.”

Isso não é um espantalho, é um seminário de verdade, treinando ministros de verdade em igrejas de verdade.

Eu já escrevi e falei sobre teoria crítica, teoria crítica racial, suas raízes marxistas e frequentemente fui acusado de perseguir um bicho papão que não existe. Ouçam novamente. Quero ler novamente. Pensem nisso por um minuto: “Ainda que divinamente inspiradas, negamos que a bíblia é inerrante ou infalível. Ela foi escrita por homens” – por isso a bíblia não pode ser confiável e não pode ser suficiente – “escrita por homens durante séculos e, por isso, reflete a verdade de Deus e o pecado” – a caracterização da forma como a bíblia chegou até nós, a forma como o Canon chegou até nós, essa caracterização está enraizada no liberalismo clássico – “reflete a verdade de Deus e o pecado e o preconceito humano. Afirmamos que o estudo acadêmico e teoria crítica nos ajuda discernir qual mensagem é de Deus.” Então quando lemos a bíblia, temos que discernir a origem, o que vem do homem e seu pecado e preconceito. O estudo acadêmico bíblico nos ajudaria nisso, além da teoria crítica.

A teoria crítica, que é uma teoria moderna das ciências sociais, enraizada e fundamentada na sociologia moderna, psicologia e ciência política, uma teoria fora da bíblia, nos ajuda ler a bíblia corretamente e determinar o que Deus fala versus o que o homem pecador fala. Portanto temos aqui um novo canon e quando aplicamos a teoria crítica – bem, existem outros pontos aqui, mas quero que entendam isso, porque muitas vezes quando discutimos esses assuntos, as pessoas dizem: “vocês não fizeram a lição de casa.” O que querem dizer com isso? O que eu preciso ler? Aí eles dão uma lista de livros, não de teólogos, mas de sociólogos e psicólogos, cientistas políticos enraizados na teoria crítica. O que muitos estão fazendo agora é indo à teoria crítica.

A teoria crítica diz que existe um novo pecado imperdoável. Jim Wallis chegou a escrever um livro sobre esse novo pecado imperdoável, o título do livro é: “O Pecado Original Americano: Racismo”. Jim Wallis não crê na doutrina do pecado original relacionado a Adão e aos homens. Mas ele definitivamente acredita no pecado original quando está relacionado a América e à teoria crítica racial.

Então lemos esse novo Canon das escrituras, dos sociologistas, cientistas políticos, psicologistas. Esse novo Canon das escrituras identificam para nós esse novo pecado imperdoável que é o racismo. Depois aplicamos isso à bíblia e a outros teólogos, rejeitamos teólogos do passado, baseado no que descobrimos no nosso novo Canon da sociologia, psicologia e ciência política. Mas isso é só o começo.

Leiamos a declaração deles sobre o pecado: “Afirmamos que todas as pessoas, sistemas e instituições estão afetadas pelo pecado. Negamos, entretanto, que somos responsáveis apenas pelos nossos próprios pecados pessoais. Deus nos chamou para entendermos como somos beneficiados ou prejudicados pela opressão estrutural e para derrubarmos o sistema do pecado.”

Declaração sobre salvação: “Negamos que a salvação vem apenas através do cristianismo e que a graça salvadora de Deus é exclusiva a uma única fé ou religião. Além disso, aos olhos de Deus, não há diferença em valor espiritual ou mérito entre aqueles que estão em Cristo e aqueles que não estão.” Esse é um seminário de verdade, treinando pessoas de verdade para posições de verdade em igrejas de verdade. Isso não é um espantalho.

Deixem-me ler outro ponto, “sexualidade no casamento”: “Afirmamos a ciência e confirmações teóricas de que Deus criou os seres humanos para viverem em várias orientações sexuais e gêneros. O espectro de experiências sexuais atestam o amor expansivo de Deus. Negamos que deva ser rejeitado qualquer amor que não cause dano.”

Vou ler outro, “complementarismo”: “Afirmamos que essa doutrina há muito tempo tem sido usada para propagar o patriarcado cristão. Isso equivale a dizer que é separado mas igual, encoberto em linguagem religiosa. Negamos que a mulher é inadequada para liderar como pastora e sabemos que a igreja desesperadamente necessita dela.”

Eu poderia continuar, mas creio que já ficou claro que isso não é um espantalho, não é invenção da minha imaginação, é real. Sou tão grato pelo fato disso estar escancarado. Assim, eu posso me levantar aqui e falar, não sobre uma teoria maluca e como essa teoria estaria teoricamente influenciando as pessoas e escutando isso ou aquilo, poderíamos traçar essa teoria. Não! Não é isso que estamos fazendo aqui. Estamos dizendo: aqui está, declarado aberta e honestamente, negando a autoridade da escritura, negando a inerrância e infalibilidade da escritura, negando a suficiência da escritura e elevando ideologias que são contraditórias ao cristianismo bíblico, elevando coisas que a bíblia claramente identifica como heresia. Fazem isso baseados no fato de que existe uma autoridade para eles que é superior a autoridade da bíblia. Essa é a autoridade das ciências sociais, que suportam suas pressuposições.

Então o que fazemos? Se estão com suas bíblias, abram em Efésios 2.

Deixem-me ser claro sobre isso. Não estou argumentando. Algo que de verdade acontece é que aqui sim encontramos um espantalho. Aqueles que criticam o nosso posicionamento neste documento ou nessa conferência ou daqueles que lutam contra essas coisas que li agora, esses afirmam que o nosso posicionamento é daqueles que acham que o evangelho trata apenas de como vamos para o céu e não tem nenhuma implicação em como vivemos nossas vidas em relação um ao outro. É mentira. Isso sim é um espantalho. A questão é que quando falamos sobre as implicações do evangelho e como vivemos em relação um ao outro, o evangelho não é apenas o que usamos para determinar como nos reconciliamos com Deus mas deixamos tudo isso de lado quando determinamos como vivemos em comunhão uns com os outros. Não. A bíblia é suficiente nos dois lados da equação. A forma como nos aproximamos da bíblia é no sentido de nos submetermos a ela e não ordenar que ela se submeta às teorias presentes nas ciências comportamentais.

Sendo assim, vamos para Efésios 2, no trecho que eu chamo de segunda metade de Efésios 2, a seção esquecida. Nós conhecemos e amamos Efésios 2, ou pelo menos dizemos isso, não é? Na verdade, o que queremos dizer é que conhecemos e amamos o primeiro parágrafo de Efésios 2.

Quando alguém diz: “Abra em Efésios 2:11”, aí respondemos: “Espera, existe verso 11? Você está inventando?” Eu sou o primeiro a admitir que não tem nada melhor do que Efésios 2:1 a 10. Você nem precisa ser pentecostal para ler Efésios 2, de 1 a 10 e sentir que precisa gritar. Amém?

Mas não é porque Efésios 2:1 a 10 nos dá algo maravilhoso, que no verso 11 temos algo menor. Na verdade, dos versos 1 a 10 temos uma imagem da nossa necessidade de Cristo para a salvação dos nossos pecados. Por causa do mundo, da carne, do diabo, estamos mortos em nossos delitos e pecados e precisamos ser vivificados com Cristo.

Essa é uma ótima notícia. Precisamos nascer de novo. Precisamos ter nossos pecados tratados. Nossos pecados precisam ser pregados na cruz e precisamos ser reconciliados com Deus. Amém! Aleluia! Louvado seja o Senhor! Mas não para aí. Somos também reconciliados uns com os outros. É isso que vemos, começando no verso 11. Vemos que essa reconciliação com Deus se inicia, lança o fundamento e é a fonte da nossa reconciliação uns com os outros. Não é sociologia, psicologia ou ciência política, mas é o mesmo evangelho.

Veja como se inicia o verso 11: “Portanto, lembrai-vos”. “Portanto” remete aos versos 1 a 10. “Portanto, lembrai-vos de que vós, no passado, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelo que, na carne, se chamam circuncisão feita por mãos.”

Aqui ele divide o mundo inteiro: “Lembrem que vocês, gentios…” Isso é importante destacar. Quando falamos sobre a suficiência das escrituras para nossa reconciliação, a suficiência das escrituras em como ela se relaciona à justiça nessa questão entre nós como indivíduos. Em primeiro lugar, vemos sua suficiência no sentido em que ela deixa claro quem somos e como nos dividimos. Vemos dois grupos aqui: gentios na carne e os circuncisos. Lembrem que naquele tempo vocês eram três coisas: separados de Cristo, alheios à comunidade de Israel e estrangeiros às alianças e promessas. Por isso, não tínhamos esperança e éramos sem Deus no mundo.

Destaco duas coisas extremamente importantes. Primeiro: é identificada a distinção que realmente importa. Segundo: é identificada a divisão que existe. Essas distinções são realmente importantes porque é comum falarmos sobre distinções e como somos diferentes uns dos outros no aspecto da nossa raça. Na verdade, raça é uma construção social. O conceito de raça não é um conceito bíblico, não é uma ideia bíblia, mas uma ideia construída. Você não encontra a ideia de raças na bíblia a não ser no contexto histórico correto – quando vemos, em primeiro lugar, que somos todos a raça de Adão. Amém? Uma raça, um sangue. Somos todos a raça de Adão. Há menos de 0.2% de diferença genética entre todos nós nessa questão.

Na verdade, nem mesmo somos de cores diferentes. Tecnicamente, de uma perspectiva genética, de uma perspectiva bioquímica, temos todos a mesma cor. Nossa cor vem da melanina. Todos nós temos melanina, apenas em diferentes graus. Então não é que alguns dentre nós são de tal cor, outros são de outra cor. Não, somos apenas de diferentes tons da mesma cor. Alguns de nós apenas tem mais melanina que outros. Quero que prestem atenção nisso, ouçam! Só porque você não tem tanta melanina quanto eu, não se atreva pensar que Deus não te ama tanto quanto Ele me ama porque me deu mais melanina. Aprenda a estar satisfeito com o pouco que você tem.

Mas existe uma outra separação. É a separação que vemos aqui nas escrituras. Essa é uma separação de verdade. As separações que nós temos são artificiais, não são separações bíblicas em natureza, não são nem separações genéticas em natureza. São artificiais, baseadas no cabelo das pessoas, suas feições, cor de pele e coisas assim. Isso é artificial. Não é verdadeiro. Fomos convencidos de que essas são separações verdadeiras, mas não são. A bíblia fala de uma distinção verdadeira: entre gentios e judeus.

Distinções raciais são coisas inventadas para nos dividir como indivíduos. É loucura, não tem consistência lógica. Eu vejo esses formulários por aí que perguntam: “Qual a sua raça?” Eu respondo: humana. Então me dizem: “Não, não, na verdade você você é afro-americano.”

Mas como isso é uma raça? Uma dessas palavras significa nacionalidade, não é? Essa é uma conversa de maluco. Como que essa é a minha raça? E como eu sou um afro-americano mas se alguém chega aqui vindo do Egito ou Argélia, ou Marrocos, não podem ser afro-americanos? A primeira parte da raça seria então baseada no meu continente? Então dizem: “Bem, não é assim, apenas negros do seu continente.” Então porque usar o nome do continente? Não é? E a segunda parte é baseada na nacionalidade. Como você consegue ter uma raça de uma nacionalidade? É tudo invenção. Não é real. Mas a distinção que lemos aqui é real, Deus a criou. Me acompanhem nisso porque será muito importante mais tarde.

A distinção entre judeus e gentios é uma verdadeira distinção, feita por Deus. Mas é uma distinção por aliança, não por raça. Como sei disso? Porque o primeiro judeu precisou se tornar um judeu. Ele era da mesma etnicidade e “raça” daqueles a sua volta. Deus não falou para Abraão: “Fique imóvel, estou me preparando para modificá-lo no nível genético para que seus descendentes possam ser geneticamente diferentes dos outros. Isso pode doer um pouco.” Não. Ele fez um ajuste externo: circuncisão. Abraão não foi alterado geneticamente. Então a divisão entre judeus e gentios não é uma divisão genética. Não tem como tentar e forçar isso, não funciona.

Deus realmente fez essa distinção. É uma distinção verdadeira, uma distinção por aliança. Por que estou trabalhando tanto nessa questão? Porque a questão é: as escrituras são suficientes. Um de nossos maiores problemas é que deixamos uma categoria inventada por homens nos dividir, mas a palavra toda-suficiente de Deus nos diz: “Isso é mentira, pare de acreditar!”

Além disso, Ele vai direto ao problema. Repito: aquela separação é artificial, mas essa separação é pactual. Verso 12: “Naquele tempo estáveis sem Cristo” – aí está o problema – “separados da comunidade de Israel e estranhos ao pacto da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.” Essa é a pior notícia que alguém pode receber. Amém?

Qual a nossa parte favorita em Efésios 2? Está no verso 4: “Mas Deus.” Há tanta notícia ruim nos versos de 1 a 3 e então você encontra a expressão: “Mas Deus”. Prestem atenção. Nos versos 11 e 12 você tem más notícias. Veja o verso 13: “Mas agora em Cristo Jesus”. Na primeira metade do capítulo você encontra más notícias, “mas Deus”. Na segunda metade você encontra más notícias, “mas agora em Cristo Jesus”.

Veja o que ele diz: “vós, que antes estáveis longe, chegastes perto pelo sangue de Cristo.” Seria isso uma ilusão? Uma ilusão do templo onde o povo de Deus adora?

Ao subir as escadas no pórtico de Salomão desejamos seguir em frente, entrar e prosseguir porque sabemos que o Santo dos Santos é o lugar onde a presença de Deus habita. Ninguém chega ali a não ser o sumo-sacerdote, somente uma vez ao ano. Fora dali há um lugar onde os sacerdotes ministram e depois há uma área onde os levitas podem se achegar, depois há uma área onde os varões judeus podem se achegar, depois há uma área onde as mulheres judias podem se achegar e lá longe, bem, bem longe, você tem a área dos gentios. Eles se achegaram para conhecer e amar Yahweh. Ainda assim, quando eles vem adorar a Yahweh, precisam permanecer bem longe, o mais longe possível da Sua presença.

Mas Cristo morreu e o véu do templo foi rasgado em dois. Agora, de repente, em Cristo, você que precisava se sentar lá longe foi trazido para perto pelo sangue de Jesus! Cristo nos reconciliou com Deus. É essa imagem que temos aqui.

Verso 14: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, derrubou o muro de separação entre nós, abolindo na sua carne a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças para fazer em si mesmo de dois um novo homem, fazendo assim a paz; e reconciliar ambos com Deus em um corpo pela cruz, matando com ela a inimizade.”

Estávamos bem longe e fomos trazidos para perto. O que é isso? É a reconciliação com Deus. Estávamos longe e fomos trazidos para perto pelo sangue de Cristo. Mas o sangue de Cristo não apenas nos trouxe para perto e também não apenas nos aproximou uns dos outros. Reparem o que é dito: “O sangue de Cristo nos fez um só homem.”

É um mistério maravilhoso. Podemos dizer que é muito similar ao mistério do casamento. É algo maravilhoso. Minha esposa e eu não estamos relacionados por sangue, mas, ainda assim, ela é minha parente mais próxima. Pense nisso por um minuto. Ela é osso dos meus ossos, carne da minha carne. Ela é meu bem. Por que? É por causa desse trabalhar misterioso e supernatural de Deus que nos uniu e nos fez um. O mesmo ocorreu entre os judeus e os gentios. Deus os trouxe para perto e os tornou um.

Amamos Gálatas 3:28, mas normalmente paramos só nesse verso. “Já não há judeu nem grego, não há também escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus.” Amém! Aleluia! Louvado seja o Senhor! Mas não pare a leitura. “E se sois de Cristo, então sois a semente de Abraão, herdeiros segundo a promessa.” Você entendeu? Abraão teve muitos filhos. Muitos filhos têm Abraão como pai. Eu sou um deles e você também. Ele faz de nós um só.

Antes de voltarmos ao nosso texto, deixem-me dizer algo. Eu disse que havia atacado aquela questão por um motivo – por causa da ideia de que somos várias raças e temos várias etnias, mas a bíblia lida com isso, certo? Nós temos diferentes etnias, mas isso é diferente de dizer que temos diferentes raças.

Existem distinções culturais entre nós e outras coisas que nos distinguem, como nossa língua por exemplo. Mas é diferente de dizer que possuímos coisas legítimas e reais que nos separam. Por que isso é importante? Porque se as coisas que acreditamos que nos separam são invenções e então vemos nesse texto que a separação que Deus criou, que é real, foi superada pelo sangue de Cristo, muito mais o sangue de Jesus pode livrar as distinções artificiais que os homens caídos criaram.

Vejamos o verso 17 de Efésios 2. Esse é um verso muito importante: “E, vindo, ele pregou a paz a vós que estáveis longes e aos que estavam perto.” A escritura é suficiente a nós nessa área de reconciliação? Sim, absolutamente. Creio que o verso 17 é o ponto decisivo nesse assunto.

Minha intenção não era fazer uma exposição sobre a teoria crítica, mas um dos problemas dessa ideia é que pensamos em raça e racismo em termos estruturais. Há pessoas argumentando que quando se pensa sobre raça e racismo na questão individual, tem-se um problema porque não se está resolvendo essas estruturas. Mas a nova definição de racismo é: racismo = preconceito + poder. Essa nova definição de racismo diz a mim e a qualquer um que não faz parte da hegemonia cultural, que esse pecado não nos toca. Eu não posso ser racista. De acordo com a definição da teoria crítica, eu não posso ser racista. Meus parentes que me disseram quando fui à universidade: “não volte pra cá com uma garota branca”, eles não podem ser racistas. Se não tivermos cuidado, podemos fomentar essa identidade de grupo, do tipo “nós contra eles” e então dizemos: “Sim, a cruz é poderosa e importante. Jesus, resgate-os! Eles precisam ser corrigidos.” Os judeus olham para os gentios e dizem: “Jesus, resgate-os! Sou grato que morrestes para torná-los parte de nós.” E os gentios dizem: “Jesus, resgate-os! Eles nos maltrataram e pensaram ser superiores a nós.”

Paulo diz nesse trecho: “Parem ambos. Quero que entendam: Cristo não veio porque Ele precisava morrer a fim de reconciliar esse grupo ao outro grupo. A questão envolve os dois lados. Aqueles que estavam perto precisam ser reconciliados, aqueles que estavam longe precisam ser reconciliados pois é uma reconciliação a Deus por causa do pecado em seus corações. Sua etnia não te desculpa do pecado em teu coração.”

Cristo, através da cruz, trouxe paz aos que estavam longe e paz aos que estavam perto. Depois, o que Ele faz? Lembrem-se quais eram os nossos problemas: separados de Cristo, alheios à comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa.

Verso 18: “Porque, por ambos temos acesso em um mesmo Espírito ao Pai.” Ele resolveu o problema da separação. Verso 19: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros” – isso resolve o problema de estarmos fora da aliança da promessa – “mas concidadãos com os santos e da família de Deus” – isso resolve o problema de estarmos alheios à comunidade de Israel. Em outras palavras, não foram resolvidos problemas pequenos ou individuais, mas todos os problemas. Verso 20: “E sois edificados sobre a fundação dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para habitação de Deus através do Espírito.”

Não podemos perder isso de vista. Uma das coisas que não podemos fazer sobre esse assunto é ter uma escatologia além da percepção. De forma resumida, uma escatologia além da percepção quer dizer olhar as promessas de Deus para a era vindoura e assumir que se nos esforçarmos o suficiente, podemos criá-las aqui e agora. Vivemos em um munto caído e danificado, por isso lutamos e reconhecemos que precisamos lutar. Lutamos reconhecendo que somos como aquele menino que coloca o dedo num buraco de uma represa e outros buracos aparecem. Isso significa que não lutamos como se essa fosse a única área e única questão que precisamos enfrentar. Se você ouvir algumas pessoas, vai parecer que é só isso. Parece que essa é a única área e questão que precisamos lutar.

Vou encerrar com essas palavras. Antes de nos mudar para Lusaka eu plantei e estava pastoreando uma igreja em Houston. Vocês podem ou não saber disso, a maioria das pessoas não sabem, mas Houston é a cidade com a maior diversidade étnica dos Estados Unidos – não é Los Angeles, não é Nova Iorque, mas é Houston, no Texas.

Havia um pastor em uma igreja em Houston que estava a ponto de “quebrar seu braço” de tanto dar tapinhas em suas próprias costas por causa da sua igreja tão diversa, tão multi étnica. Cerca de 60% da igreja era de pessoas brancas – pessoas privadas de melanina – e cerca de 35% era de pessoas com muita melanina. Ouçam isso: na cidade com a maior diversidade étnica da América, alguém estava se aplaudindo por ter uma igreja diversa, multicultural, porque era composta por duas etnias.

Ali estava aquela igreja, enchendo o peito e gritando: “Vejam, negros e brancos juntos.” Eu respondo: “Muito bem, que bom. Mas e quanto aqueles laocianos que vivem ali? E os samoanos ali atrás? E os imigrantes russos que estão lá?” Temo que o que aconteceu é que fomos convencidos e pensamos que o único problema que precisamos resolver é aquele que envolve pessoas com muita melanina e pessoas com pouca melanina. Enquanto isso, um monte de pessoas são excluídas.

Mas aqui está a beleza da suficiência das escrituras sobre esse assunto. Não importa o que causa divisão entre nós. A resposta é a mesma: Cristo é nossa paz. A reposta é simples: Cristo é nossa paz.

Dr. MacArthur havia falado sobre aconselhamento pastoral e psicologia, assim como as coisas do movimento psicológico. Houve um período de tempo quando não críamos que as escrituras eram suficientes para lidar com os problemas das pessoas, então precisávamos de pessoas treinadas em psicologia. Lembram-se disso?

É a mesma questão, pois não cremos na suficiência da escritura. O que acontece é que alguns que ouviram falar que a bíblia é suficiente para lidar com os problemas das pessoas, quando recebem outras pessoas que chegam afirmando: “estou com depressão”, ou “eu sou esquizofrênico”, ou “sou viciado em drogas” ou “sou viciado em álcool” elas de forma muito simplista pegam suas bíblias e respondem: “leia esses três versos e me ligue amanhã cedo.” Isso que não é suficiente. Não é isso que significa aconselhamento bíblico.

A resposta é simplesmente que a bíblia é suficiente para lidar com os problemas grandes e pequenos das pessoas. Mas é muito difícil, complicado e confuso, pois aplicar isso requer muito trabalho. O mesmo é verdadeiro aqui. Ouçam-me dizer algo sobre essas questões que nos dividem, quer seja raça, etnias e todo resto: a resposta é simples.

Não quero dizer com isso que podemos apenas falar: “leia esses três versos e me ligue amanhã cedo.” Existem gerações de pessoas que estão confusas e isso precisa ser resolvido, precisam ser resgatadas e trabalhadas e esse é um trabalho difícil. Mas deixem-me dizer isso: a bíblia é suficiente para a carga pesada e para o trabalho difícil. É simples, mas é difícil. Mas Deus e Sua palavra são suficientes. Amém.